sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Discurso do Presidente da Costa Rica na Cúpula das Américas ...


Não sei a origem, muito menos quem traduziu e digitou ... fato é que o discurso, se realmente foi feito nos termos em que está posto no texto, contém muitas verdades.

Percebo o reiterado e batido discurso anti-americano com reservas. Evidentemente que há muita coisa ruim no "imperialismo", mas o que mais me parece é o velho discurso contra a riqueza, seja qual for. Vivemos num sistema em que se demonizou a riqueza alheia, o poder alheio, a competência alheia. É rico?? Não presta, roubou, é traficante. Lembra o discurso do Brizola que décadas depois continuava falando da ditadura. Continuava se dizendo perseguido pela Globo quando, na verdade, os militares já não mandavam fazia tempo e a Globo já não perdia mais tempo com ele.

Lembra também o velho hábito de se bradar duras palavras contra a corrupção, quando na verdade a grande maioria discursa assim exclusivamente pela impossibilidade de estar lá.. no poder... fazendo as mesmas coisas. É a velha hipocrisia. Aliás, é do Lincoln a frase que diz que "hipócrita é o homem que matou os pais e pede clemência alegando ser órfão".

Muito fácil falar e falar que os americanos isso e aquilo enquanto "vivemos um" e "vivemos em um" País com as realidades apontadas no discurso de Oscar Arias. Percebo sempre o quanto ficamos sensibilizados pela miséria humana que nos cerca, miséria moral, material e espiritual, o quanto ficamos condoídos, o quanto lamentamos, o quanto esbravejamos contra governantes (!!) e partidos no poder (!!), e seguimos, por trás da película irregular dos vidros de nossos carros, em direção aos nossos muros de proteção, apagando da memória tais imagens até fazermos o mesmo caminho no dia seguinte e tudo se repetir...

Pois é! É a realidade, não é? Claro. O que podemos fazer. É o sistema. É a vida. Culpa do capitalismo selvagem ... dos norte-americanos. Culpa do Bush!!!!!!!!!!! Ah, o Bush saiu. Mas o Obama logo terá que transformar o discurso em ações e ... culpa dos ianques.

Melhor falar mal dos norte-americanos. Esses imperialistas "horrorosos" que querem "nos tomar a Amazônia", que "distribuem a miséria pelo mundo" e são bem sucedidos em muitas coisas a mais do que nós. Ahhhh!!! dirão muitos: a toda hora um norte-americano sai atirando em todo mundo!!!! Ahhh!!! dirão outros: eles são frios!!! Ahhh!!! eles invadem os "Iraques" da vida inventando razões!!!

Ninguém aqui serve para bobo. Sabemos como eles são. Não falo isto tudo para defendê-los. Mas infelizmente parece que o que não sabemos é o que somos. Não sabemos a nossa realidade por detrás do muro. E "é humano transferir para os outros ou para as circunstâncias a culpa pelos nossos fracassos".

Pois é. E o que temos feito além de culpar os americanos, o lula, o pt, o fhc, a dilma? Ouvi falarem tanto das pesquisas "manipuladas" a favor do lula e "o cara" se reelegeu com mais de 60% dos votos. Moro numa cidade "absurdamente absurda" (rs) como cidade e "o carinha" se reelegeu com mais de 60% dos votos.

É por estas e por outras que não falo mal do Congresso Nacional. (!)




Palavras do Presidente Oscar Arias da Costa Rica na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, 18 de abril de 2009.


"Tenho a impresso de que cada vez que os países caribenhos e latino-americanos se reúnem com o presidente dos Estados Unidos da América, é para pedir-lhe coisas ou para reclamar coisas. Quase sempre, para culpar os Estados Unidos de nossos males passados, presentes e futuros. No creio que isso seja de todo justo.

Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse País. Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram
mais ou menos iguais: todos eram pobres.

Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países subiram nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.

Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.

Faz 50 anos, o México era mais rico que Portugal. Em 1950, um país como o Brasil tinha uma renda per capita mais elevada que o da Coréia do Sul. Faz 60 anos, Honduras tinha mais riqueza per capita que Cingapura e hoje Cingapura, em questão de 35 a 40 anos, é um país com $40.000 de renda anual por habitante. Bem, algo nós fizemos mal, os latino-americanos.

Que fizemos errado? Nem posso enumerar todas as coisas que fizemos mal.

Para começar, temos uma escolaridade de 7 anos. Essa a escolaridade média da América Latina e não é o caso da maioria dos países asiáticos. Certamente não é o caso de países como os Estados Unidos e Canadá, com a melhor educação do mundo, similar à dos europeus. De cada 10 estudantes que ingressam no nível secundário na América Latina, em alguns países, só um termina esse nível secundário. Há países que tem uma mortalidade infantil de 50 crianças por cada mil, quando a média nos países asiáticos mais avançados é de 8, 9 ou 10.

Nós temos países onde a carga tributária de 12% do produto interno bruto e não é responsabilidade de ninguém, exceto nossa, que não cobramos dinheiro das pessoas mais ricas dos nossos países. Ninguém tem a culpa disso, a não ser nós mesmos.

Em 1950, cada cidadão norte-americano era quatro vezes mais rico que um cidadão latino-americano. Hoje em dia, um cidadão norte-americano é 10, 15 ou 20 vezes mais rico que um latino-americano. Isso não culpa dos Estados Unidos, é culpa nossa. No meu pronunciamento desta manhã me referi a um fato que para mim é grotesco e que somente demonstra que o sistema de valores do século XX, que parece ser o que estamos pondo em prática também no século XXI, é um sistema de valores equivocado. Porque não pode ser que o mundo rico dedique 100.000 milhões de dólares para aliviar a pobreza dos 80% da população do mundo "num planeta que tem 2.500 milhões de seres humanos com uma renda de $2 por dia" e que gaste 13 vezes mais ($1.300.000.000.000) em armas e soldados?

*Como disse esta manhã, no pode ser que a América Latina gaste $50.000* milhões em armas e soldados. Eu me pergunto: quem é o nosso inimigo? Nosso inimigo, presidente Correa, desta desigualdade que o Sr. aponta com muita razão, é a falta de educação; o analfabetismo; que não gastamos na saúde de nosso povo; que no criamos a infra-estruturar necessária, os caminhos, as estradas, os portos, os aeroportos; que não estamos dedicando os recursos necessários para deter a degradação do meio ambiente; a desigualdade que temos que nos envergonhar realmente; produto, entre muitas outras coisas, certamente, de que não estamos educando nossos filhos e nossas filhas.

Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece, no entanto, que estamos nos anos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos, não dos latino-americanos.

E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual o melhor? capitalismo,
socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo...), os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*. Para só citar um exemplo, recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos camaradas, que a mim no importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa que cace ratos". E se
Mao estivesse vivo, teria morrido de novo quando disse que "a verdade que enriquecer glorioso". E enquanto os chineses fazem isso, e desde 1979 até hoje crescem a 11%, 12% ou 13%, e tiraram 300 milhões de habitantes da pobreza, nós continuamos discutindo sobre ideologias que devíamos ter enterrado há muito tempo.

A boa notícia é que isto Deng Xiaoping o conseguiu quando tinha 74 anos. Olhando em volta, queridos presidentes, não vejo nenhum que esteja perto dos 74 anos. Por isso só lhes peço que no esperemos completá-los para fazer as mudanças que temos que fazer.

Muchas gracias."
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