Tenho reproduzido aqui alguns textos do Mario Quintana, resultado de quatro novos livros que comprei desse gaúcho, poeta superlativo.
Há poucos dias postei "Cuidado":
"Cuidado. Se alguém tem uma crença - por absurda que for - nunca discutas com ele... Dize-me, com a mão no coração: - que lhe darias em troca?Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança."
Meu amigo e irmão Adriano Bittencourt, tocado pelos muitos significados do texto do poeta, fez um comentário que merece postagem como artigo. É um alerta importante, fala da vida, da vida atual, de como acabamos nos sentindo diante da realidade que nos assalta todos os dias. E me parece que as palavras soam ainda mais fortes para quem vive em Porto Velho...
Vale a leitura. A reflexão é consequência...
Adriano M Bittencourt disse...
Me lembro da primeira enchente que enfrentei quando fui trabalhar na Prefeitura de Curitiba. A desgraça que só conhecia dos livros e da televisão estava logo ali, ao meu lado.
Tudo me chocava, tudo me afligia. A criança barrigudinha, sem roupas e comida. E nem me venha perguntar se tinha teto.
A mãe, também barrigudinha, embarrigada pelo pai que tinha como amante a cachaça, chorava a miséria de seus filhos e o infortúnio da vida. E eu estava ali de coração apertado, trabalhando feito doido pra ver se conseguia diminuir o sofrimento daquela gente.
Engraçado, não foi a única enchente que enfrentei, mas foi a única que me tocou. Daquele momento em diante, passei a ter no cotidiano o contato com as mazelas da vida de verdade. Vi o relocamento do desabrigado e venda do lote doado. Vi o choro dissimulado e acabei por ficar como se vacinado.
É incrível mas a desgraça imuniza o homem. Perdi um pouco do poder de indignação, pois a realidade, companheira, era tão feia que aos poucos você se acostuma com ela e até a tem como vistosa.
É assim que vejo o momento em que vivemos.
Já é tão comum a notícia de político corrupto, de obra super faturada, de uso de informação privilegiada que não nos indignamos mais com nada.
Nada, nada mesmo me assusta ou faz surpresa.
Não há buraco na calçada, falta de saneamento ou de vergonha que nos coloque a pensar.
Reclamar... Reclamar pra que? E de que?
Estamos como aquele que anda todo dia pela mesma rua, mas não olha para os lados e não conhece nem as fachadas das casas da rua.
Cegos que enxergam, surdos que ouvem. Ignorantes com cérebro.
Isso mesmo, somos ignorantes com cérebro.
Melhor não tê-lo, pois não sabemos interpretar o que vemos e o que ouvimos.
Inicio então uma campanha. Arranquemos nossos cérebros e cordas vocais, pois elas pra nada servem.
Se aceitamos ladrões e idiotas como governantes. Se aceitamos como normal a falta de um mínimo de cuidado com nossas ruas, calçadas e escolas, arranquemos nossos cérebros, pois será mais fácil no futuro.
No futuro, sem cérebros não havemos de nos arrepender, e permaneceremos na mais linda e pura ignorância, pois reclamar cansa, e da desgraça estamos imunizados.
Enfim...
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