Os acontecimentos astronômicos mais facilmente observáveis por todos os povos da Terra, de qualquer que seja seu nível cultural, são sem dúvida as fases da lua, os solstícios e os equinócios.
Durante os solstícios, o sol parece deter sua marcha de um hemisfério ao outro. Precisamente, "solstício" deriva do latim que significa "o sol se detém". Por exemplo, para nós nesta data o sol parece deter sua marcha para o sul, chegando a sua máxima proximidade de nosso hemisfério.
Sabemos que estes são movimentos aparentes do sol, já que na realidade é a Terra que se move. O efeito é um resultado dos movimentos de translação e inclinação do eixo terrestre.
Além de girar em torno de seu eixo, a Terra desloca-se no espaço com um movimento de translação em torno do Sol, quando descreve uma elipse. Para o observador situado na Terra, todavia, é como se esta fosse fixa e o Sol se movesse em torno dela, seguindo um caminho que é chamado de eclíptica.
Em sua marcha em torno do Sol, a Terra, descrevendo uma elipse, ficará mais próxima ou mais afastada do astro da luz. O ponto mais próximo (147 milhões de quilômetros) é o periélio; o mais afastado (152 milhões de quilômetros) é o afélio. Se a Terra, no movimento de translação, girasse sobre um eixo vertical em relação ao plano da órbita, as suas diferentes regiões receberiam iluminação sempre sob o mesmo ângulo e a temperatura seria sempre constante em cada uma delas. Mas, como o eixo é inclinado em relação à órbita, essa inclinação faz com que os raios solares incidam sobre a Terra segundo um ângulo diferente a cada dia que passa. E, assim, vão se sucedendo as estações: verão, outono, inverno e primavera.
Como os planos do equador terrestre e da eclíptica não coincidem, tendo uma inclinação, um em relação ao outro, de 23 graus e 27 minutos, eles se cortam ao longo de uma linha que toca a eclíptica em dois pontos: são os equinócios. O Sol, em sua órbita aparente, cruza esses pontos ao passar de um hemisfério celeste para outro; a passagem de Sul a Norte marca o início da primavera no hemisfério Norte e do outono no hemisfério Sul; a passagem do Norte para o Sul marca o início do outono no hemisfério Norte e da primavera no hemisfério Sul. Esses são os equinócios de primavera e de outono.
Por outro lado, nos momentos em que o Sol atinge sua maior distância angular do equador terrestre, ou seja, quando é máximo o valor de sua declinação, ocorrem os solstícios. Os dois solstícios ocorrem a 21 de junho e a 21 de dezembro; a primeira data marca a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Câncer, enquanto que a segunda é a passagem do Sol pelo primeiro ponto do trópico de Capricórnio. No primeiro caso, o Sol está em afélio e é solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul; no segundo, o Sol está em periélio e é solstício de inverno no hemisfério Norte e de verão no hemisfério Sul. Portanto, o solstício de verão no hemisfério Norte e de inverno no hemisfério Sul, ocorre quando o Sol está em sua posição mais boreal (Norte); o solstício de verão no hemisfério Sul e de inverno no hemisfério Norte ocorre quando o Sol está em sua posição mais austral (Sul).
Por herança recebida dos membros das organizações de ofício, que, tradicionalmente, costumavam comemorar os solstícios, essa prática chegou à Maçonaria moderna, mas já temperada pela influência da Igreja sobre as corporações operativas. Como as datas dos solstícios são 21 de junho e 21 de dezembro, muito próximas das datas comemorativas de São João Batista (24 de junho) e de São João Evangelista (27 de dezembro), elas acabaram por se confundir com estas, entre os operativos, chegando à atualidade. A primeira Obediência maçônica do mundo foi fundada em 1717, no dia de São João Batista.
Graças a isso, muitas corporações, embora houvesse um santo protetor para cada um desses grupos profissionais, acabaram adotando os dois “São João” como padroeiros, fazendo chegar esse hábito à moderna Maçonaria onde existem, segundo a maioria dos ritos, as Lojas de São João, englobando, aí, os dois santos.
Essas datas solsticiais estão representadas num símbolo, que é o Círculo entre Paralelas Verticais e Tangenciais. Este significa que o Sol não transpõe os trópicos, o que sugere que a consciência religiosa do Homem é inviolável; as paralelas representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio e os dois “São João”.
Tradicionalmente, por meio da noção de porta estreita, como dificuldade de ingresso, evocam-se as portas solsticiais, estreitos meios de acesso ao conhecimento, simbolizados no círculo cósmico, no círculo da vida, no zodíaco, pelo eixo Capricórnio-Câncer, já que Capricórnio corresponde ao solstício de inverno e Câncer ao de verão (no hemisfério Norte, com inversão para o Sul). A porta corresponde ao início, ou ao ponto ideal de partida, na elíptica do nosso planeta, nos calendários gregorianos e também em alguns pré-colombianos, dentro do itinerário sideral.
O homem primitivo distinguia a diferença entre duas épocas, uma de frio e uma de calor, conceito que, inicialmente, lhe serviu de base para organizar o trabalho agrícola. Graças a isso é que surgiram os cultos solares, com o Sol sendo proclamado como fonte de calor e de luz, o rei dos céus e o soberano do mundo, com influência marcante sobre todas as religiões e crenças posteriores da humanidade. E, desde a época das antigas civilizações, o homem imaginou os solstícios como aberturas opostas do céu, como portas, por onde o Sol entrava e saía, ao terminar o seu curso, em cada círculo tropical.
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