quarta-feira, 21 de abril de 2010

A mesmice...


"Haverá coisa mais banal, mais igual a todo mundo, mais previsível, que oferecer um buquê de rosas?

Com um buquê de rosas estou dizendo: 'Você é igual a todas as outras. Para todas as outras ofereci um buquê de rosas. E todas elas disseram e fizeram o que você fez agora. Disseram: 'Que lindas!' E fizeram: cheiraram as rosas.'

Mas se eu desse um buquê de cebolas - que ela receberia com um risada, sem cheirar - ela saberia que eu lhe estava dizendo: 'Você não é igual às outras. Você leu Pablo Neruda.'

Claro que o pai dela ficaria furioso e tentaria me expulsar da casa, por aquele gesto ofensivo, grosseiro. Cebolas são entidades malcheirosas, culinárias, eu estava chamando sua filhinha de cozinheira.

Coitado. Normal. Literal. Via do jeito como todo mundo. Estava de possa da razão. Não lia Pablo Neruda. Só lia os jornais, via o Jornal Nacional, usava cueca branca, pijama de bolinha, no restaurante sempre pedia o mesmo prato, não levava a mulher ao motel, e fazia romaria a Aparecida. Comia tédio com gosto. Todo mundo come. É o normal. E se todo mundo come deve ser bom. Deve ser o jeito certo de viver. Vai também morrer do jeito certo, sem nunca ter sentido o terror do vento frio batendo no rosto quando se sobe nas alturas dos montes solitários." (R. Alves).
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