domingo, 21 de junho de 2009

Lula: desmatador não pode ser chamado de bandido. (J. Carlos Leite Junior).


Em cerimônia que reuniu dez ministros e autoridades de três Estados - Mato Grosso, Pará e Rondônia - em Alta Floresta/MT, o Presidente Lula da Silva fez essa afirmação ao lançar um mutirão pela regularização de terras.

As reações foram, em regra, contrárias, como se Lula mais uma vez estivesse dizendo um desatino.

Entretanto é preciso levar em conta muitos fatos, inclusive históricos, que se interligam à questão ambiental.

Em meio aos seus constantes e incontáveis equívocos o Sr. Lula da Silva, seja lá qual tenha sido sua intenção verdadeira, foi correto em sua manifestação.

Nos Estados que formam a Amazônia Legal existem milhões de brasileiros que há décadas deixaram seus Estados de origem, incentivados pelo Poder Público, para ocupar as terras da Região Norte. Enfrentaram toda sorte de obstáculos atendendo ao lema espalhado no País pelo Governo: ocupar para não entregar.

A defesa ambiental, a par de sua extrema relevância, tem gerado absurdos e injustiças como o de rotular de bandidos, de forma genérica e desarrazoada, pessoas de bem que vivem na Amazônia e da terra sobrevivem.

Os milhões de habitantes da Região Norte são também brasileiros e não podem ser tratados como párias a partir, por exemplo, de questionáveis “movimentos” de pessoas que estiveram visitando alguma parte da Amazônia por alguns dias – a passeio ou integrando elenco de alguma produção artística romanceada – e saíram com discursos de defesa da Amazônia marcados por equívocos, calcados em falsas premissas, porém de grande efeito de mídia pela influência que exercem sobre parte da sociedade por suas atuações artísticas. Lamentável, mas pouco conhecem da realidade local, da migração, da vida e do trabalho de tanta gente que temerariamente condenam ao colocar no mesmo balaio em que estão os que atuam à margem da lei, à margem das normas atuais de proteção.

É preciso ampliar o horizonte de análise sob pena de “corrigir” um erro cometendo outros tantos, talvez de maior gravidade. Corrigir entre aspas porque os verdadeiros bandidos continuarão agindo sob o manto da impunidade e da incompetência, da mesma forma como continuam armados depois da idiota lei do desarmamento. À ação destruidora destes é que precisa ser dado um basta.

Que se observe, como exemplo, o que ocorreu no Estado do Paraná. Levantamento recente realizado pela Sema – Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos indicou que das florestas originais do Paraná restam hoje apenas 20% de florestas primitivas, concentrados basicamente na Serra do Mar, Parque Nacional do Iguaçu e região centro sul.

Seria correto afirmar genericamente que todos que deram causa a esse desmatamento absurdo ao longo de décadas, inclusive pequenos agricultores, são bandidos?

A questão é essa, também.

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