Em setembro de 1989, um Boeing 737/200 (PP-VMK), da VARIG, decolou de Marabá para Belém e acabaria perto de uma fazenda em São José do Xingu, MT, a 243º de diferença de proa, o que quer dizer que a direção era Norte e ele voou para Sudoeste. Tudo aconteceu por que na hora, sejamos grosseiros e superficialmente didáticos, de inserir o rumo no piloto automático, ao invés de programar o rumo 027º o Cmte. digitou 270º. A imprensa, claro, caiu em cima. Tudo ia bem até a hora em que a Folha de São Paulo fotografou um RMI – equipamento parecido com uma bússola mas não é uma bússola – dizendo que o acidente se devia a um problema com a...bússola. Telefonei pros caras dizendo tudo o que achava da “grande imprensa”. Lembrei do fato semana passada quando todo mundo, de novo, sabia o que tinha acontecido com o avião da Air France. Cara-pálida dá-se o seguinte: quando você não sabe alguma coisa e precisa saber, pergunte a quem sabe. Foi uma seqüência de débeis mentais atrás de seus 15 minutos de celebridade que me deu uns trinta tipos de medo. Primeiro foi um Ten. Cel. Av. da Força Aérea, quase jurando que havia sobreviventes e que, em caso de pouso na água, automaticamente, se desprenderia das portas uma esteira que também serviria como flutuador. Confesso que eu não sei como um cara desses consegue chegar a Ten. Cel. Av., em algum lugar. Em seguida, vem outro especialista munido de um simulador de vôo “reproduzindo” o que poderia ter acontecido se o Airbus tivesse entrado na zona de mau tempo que eles “imaginavam”. E a televisão colocou isso no ar. Mas o pior dessa palhaçada aconteceu quando o repórter pôs-se a nos explicar, indicando uma tela PFD – Primary Flight Display – que contém o horizonte artificial, proa e o speed tape, dizendo que o problema devia ter sido com “fly-by-wire” (sistema que substituiu o acionamento mecânico, por cabos ou tubos, das superfícies de comando, por impulsos elétricos), que se parece tanto com uma tela de cristal liquido quanto o parentesco que existe entre um jacaré e um campo de futebol. Não contentes, os imbecis foram mais longe em suas conjecturas. Saindo um pouco, foram para as comunicações e resgate. No quesito comunicação, queriam saber por que o piloto não havia se comunicado com os centros Brasil/Senegal, eu sei. Não se comunicou porque não deu. E acabou! Quem acrescentar alguma coisa ta inventando. Buscas: até o Ministro de Defesa se apresentou pra falar um monte de asneiras (a praia dele é Direito; pra Defesa seria bom ter alguém que entendesse da área) e foi pego no ato por autoridades francesas, pedindo que se alguém tivesse que falar, tivesse o que falar. Aí, como não podia faltar, onde estão as caixas pretas? Seriam elas a resposta para as nossas dúvidas? Até um pedaço, sim. Acontece que hoje existe um sistema de transmissão de dados – ACARS - do voo em tempo real, via satélite, conectado com a seção de manutenção da empresa proprietária/operadora e do fabricante do avião que fornece tudo o que está acontecendo durante todas as operações. Então, pode ter certeza que o fabricante e os operadores dos Airbus que tão voando por aí já sabem o que aconteceu e porque, se eles vão contar é outra história, ou vão entregar o ouro pra Boeing e pra Embraer? Voltando ao título, seria tão mais fácil pra esse pessoal da imprensa ir até a TAM, que é a maior operadora de Airbus no Brasil, achar um comandante e perguntar pra quem sabe, o que poderia ter acontecido. Então minha preocupação fica em, se eu não sei um pouco do assunto, tomo tudo o que foi dito como verdade. Logo, tendo esta constatação como referência, imagina o que já li e vi de empulhação nesses jornais e televisões da vida. Esse povo menospreza nossa capacidade pensar.
Marco Leite.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Artigo de Marco Leite sobre a cobertura pela imprensa do acidente com avião da Air France.
Imprensa.
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