“O sol estava se pondo. O pôr do sol a fez lembrar-se do seu pai. E ela começou a falar. Ele estava mortalmente enfermo e sabia disso. Ela abandonou seu trabalho para estar com ele. E conversavam sobre a partida que se aproximava. Tranquilamente. Aqueles que aceitam a chegada da morte ficam tranqüilos. Disse-me que a hora que seu pai mais amava era o crepúsculo. Desde menina, ele se assentava com ela e ia mostrando a beleza das nuvens incendiadas, a progressiva e rápida sucessão das cores, azul, verde, amarelo, abóbora, vermelho, roxo... À medida que a morte se aproximava, a fraqueza aumentava. Mas, mesmo fraco, queria ver o pôr do sol. Talvez pela irmandade de um homem que morre e um sol que se põe. Numa dessas tardes, ela não conseguiu conter as lágrimas. Chorou. Ele a abraçou e colocou seu dedo sobre os seus lábios. “Não quero que você chore...”. E, apontando para o sol que se punha, disse: “Eu estarei lá...”. E contou-me também de uma orquídea que silenciosamente acompanhou esses momentos de despedida. A orquídea, depois que seu pai partiu para o pôr do sol, se recusou a parar de florir... Será que o seu pai foi morar na orquídea? É possível...”
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sexta-feira, 16 de abril de 2010
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